O relatório «A condição juvenil portuguesa na viragem do milénio», encomendado pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto e elaborado por sociólogos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, apresenta um «retrato longitudinal da população juvenil portuguesa» de 1990 a 2005, cruzando dados estatísticos de várias entidades oficiais.
O documento realça que a população jovem decresceu cerca de oito por cento entre 1991 e 2004, deixando de constituir um quarto da população portuguesa para passar a representar apenas um quinto.
Considera como jovens os elementos femininos e masculinos com idades entre os 15 e os 29 anos, salientando que «hoje a condição juvenil corresponde a um tempo mais alargado», entre outros factores, por via do prolongamento das carreiras escolares e formativas, bem como do retardamento e da reforçada vulnerabilidade das inserções laborais dos jovens, cada vez mais sujeitos ao desemprego, subemprego, ao emprego temporário, a formas de emprego 'atípico'.
O segmento jovem é, segundo o estudo, aquele que se nota cada vez mais qualificado, mas onde por contraste o abandono escolar desqualificado «está longe de ser erradicado».
Do total de jovens que abandonam o ensino, 12 por cento fazem-no apenas com o primeiro ciclo do ensino básico, 23 por cento com o 2º ciclo e 20 por cento com a conclusão do 9º ano de escolaridade.
«As raparigas tendem a permanecer mais tempo no sistema educativo do que os rapazes, investindo mais na sua escolarização, fenómeno que tem vindo a intensificar-se na última década», realça.
Segundo o relatório, apresentado este domingo em Braga, os rapazes saem mais cedo do sistema de ensino, muitas vezes desistindo sem a escolaridade mínima obrigatória, entrando mais cedo no mercado de trabalho e representando papéis laborais que exigem pouca qualificação e são menos bem pagos.
Os jovens do sexo masculino «tendem também a estar acentuadamente sobrerepresentados em fenómenos de delinquência, criminalidade, sinistralidade e condutas de risco, reflectindo-se, por exemplo, nas taxas de óbitos deste segmento da população por comparação ao feminino», revela o relatório.
Esta permanência nos bancos da escola faz com que o sexo feminino entre mais tarde no mercado de trabalho e adie o casamento, que tem vindo a diminuir, não apenas entre a população jovem mas também na população em geral.
Por seu lado, a taxa de divórcio entre a população jovem tende a aumentar, indiferentemente de ter sido uma celebração católica ou não e de haver ou não filhos.
Embora continue a ser minoritária, duplicou a proporção de jovens que prefere a união de facto para constituir família.
O número de divórcios aumentou a nível nacional, principalmente entre os jovens com 25-29 anos, e nos últimos anos a maioria dos casamentos, católicos ou não, que acabaram em divórcio na população jovem duraram entre um a quatro anos.
Em média, a idade da mulher ao primeiro filho tem vindo a aumentar progressivamente, com os nascimentos a ocorrem com maior frequência na faixa etária dos 25 a 29 anos.
Houve também uma diminuição do nascimento de filhos entre pais jovens, um contínuo decréscimo «que decorre de um conjunto de alterações de atitude em relação a comportamentos sexuais», nomeadamente «libertação dos comportamentos sexuais, divulgação do planeamento familiar e difusão dos métodos contraceptivos».
O retardamento da idade de procriação «é também fruto de questões económicas e sociais como são o prosseguimento dos estudos, a necessidade sentida pelos jovens de se estabilizarem economicamente antes de casarem ou terem filhos e as dificuldades de inserção laboral», salienta o documento.
Os jovens muito raramente têm mais de dois filhos e o índice de fecundidade nacional tem-se estabilizado em torno de 1,4 e 1,6 filhos.
Apesar de a pirâmide etária revelar que a população continua a envelhecer, há um crescimento contínuo do número de residentes em Portugal, que se deve sobretudo, segundo o relatório, à entrada de imigrantes, sobretudo homens vindos de países com os quais Portugal tem relações históricas, como Cabo Verde, Brasil e Angola.
A maioria dos jovens vive em cidades ou localidades de pequena dimensão, ocorrendo no entanto nos últimos anos movimentos migratórios internos para lugares de maior dimensão, principalmente para grandes cidades como Lisboa e Porto.
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